Dois dedos sobre a Pré-História - Parte 1

Bom, você já deve ter percebido que o mundo não passou a existir quando você nasceu, e que ele vai continuar existindo depois de sua morte não é mesmo? Também já deve ter percebido que assim como frequentemente novas tecnologias estão sendo criadas, toda a tecnologia já existente foi criada em algum momento.

Pensando nisso, alguma vez você já se perguntou como é que viviam os seres humanos antes de toda essa tecnologia? Como era a tecnologia da época em que sequer a escrita existia e como os profissionais que pesquisam o ser humano, sua história e seus costumes conseguem saber como era a vida nesse tempo?

Se quiser saber, continua a ler esta postagem.


Do que estamos tratando quando falamos de Pré – História?


Estamos falando de um período de tempo de pelo menos 3 milhões de anos! Tempo pra caramba, não concorda? de acordo com especialistas da antropologia biológica, historiadores e arqueólogos, foi durante esse período que aconteceram os seguintes marcos evolutivos na espécie humana:
  • Crescimento do cérebro,
  • Bipedismo, isto é, o ser humano passou a andar sobre 2 membros, liberando os outros para fazer outras tarefas;
  • Perda da maior parte dos pêlos corporais e diferenciação fenotípica, isto é, da cor da pele, tamanho e formato dos narizes, tipo de cabelo, formato do olhos entre outras características;
  • Desenvolvimento da linguagem, descoberta de como fazer fogo, criação e aperfeiçoamento de armas e ferramentas como facas e machados de pedra, lanças, arco e flecha, anzóis e agulhas de ossos, raspadores de conchas e muitos outros objetos de pedra, madeira, ossos e pele de animais (como tendas e objetos musicais de percussão),
  • Observação da natureza e início de seu "domínio" com o desenvolvimento da agricultura, da criação animais, do uso de fibras vegetais para tecer, descoberta dos minérios e o desenvolvimento da metalurgia...
  • Criação das primeiras religiões, arte, cidades e culturas (cada grupo humano criou a sua), Estado, comércio e, finalmente, a escrita.
Ufa! Muita coisa aconteceu neste período! Mesmo com este resumo que é muito, mas muito superficial, já dá para perceber que este período não foi apenas longo,mas também repletos de transformações!

E antes de seguirmos em frente, eu aviso: as datas que apresento não são consenso entre os estudiosos da pré-história. Isso porque os métodos de datação são confiáveis até um certo limite, ok?


Por que a Pré-história tem esse nome?


Se a gente considerar que o prefixo pré nos remete a ideia de anterioridade, fica parecendo que a pré-história é um período anterior à história. Mas na verdade, ela se refere a um um período da história, e não qualquer período: é o maior período da história! É um período tão grande   cerca de 3.000.000 de anos – que ele tem divisões e subdivisões para auxiliar quem estuda este período!

Mas então, por que Pré-história? Parece até que não existe história desse período. E isso é uma GRANDE mentira!

Na verdade, o que não existia eram os registros escritos, pois a escrita ainda não havia sido inventada. Entretanto, sabe-se que sistemas religiosos, políticos e sociais já tinham sido criados. Só depois é que apareceu a escrita. O termo pré-história então se refere ao período histórico anterior à escrita. 

Você deve estar lendo e ficando ansioso. Afinal de contas, até agora eu não respondi a razão da escolha do nome Pré-História para este período. Bem, a escolha deste termo data do séc, XIX, quando a história começou a ser estruturada enquanto ciência. Ela era até estudada, mas somente então é que ela se torna um campo de conhecimento definido e com métodos próprios. E nesse início, para um grupo de historiadores, liderados por Leopold von Ranke e influenciados pelo positivismo, as únicas fontes históricas que eram admitidas como fontes confiáveis de conhecimento histórico eram os documentos escritos (de preferência os oficiais). Daí que veio a ideia de chamar toda a história anterior à invenção da escrita de pré-história.

Com o tempo, outros tipos de fontes históricas passaram a ser considerados confiáveis e importantes. Muitos povos no mundo não desenvolveram formas de registro escrito. São sociedades que transmitem a seus descendentes os seus conhecimentos e sua história através da tradição oral, e a palavra é considerada sagrada. Por isso, as pessoas que participam dessas sociedades tem uma relação e confiança entre os seus membros, não há medo de ser enganado nos negócios. Não existe razão para que haja um registro das transações comerciais e dos contratos firmados entre os membros dessas sociedades, que podem ser classificadas como orais ou ágrafas. 

Ao dizer que somente os documentos escritos são fontes históricas, os historiadores do séc. XIX diziam que as populações orais/ágrafas não possuem história.  O fato de não haver registro escrito na época, não significa que não haja fontes históricas, isto é, vestígios das atividades humanas do período. Por causa disso, até houve um grupo de historiadores que tentou mudar o nome do período pra História Ágrafa (história não escrita). Mas estava todo mundo tão acostumado com o nome Pré-História que o nome novo não pegou.

As fontes que nos permitem estudar e conhecer a pré-história são restos de fogueira, pontas de lanças e flechas, esculturas, panelas, enfim, toda sorte de objetos que ajude a entender como os seres humanos viviam.


A evolução humana durante a Pré–História


A Pré-História foi o maior período da história. Tão grande que os seres humanos se transformaram fisicamente e conquistaram novas capacidades mentais. Ao menos, é isso que a ciência diz, baseadas em fósseis que foram atribuídas à especies humanóides (que têm características semelhantes às nossas). O estudo dos fósseis, sua distribuição no globo terrestre e a datação deles levou os cientistas a acreditarem que o ser humano evoluiu assim:


Australopitecus

Esse nome que dizer “macaco do sul”. Isso porque essa espécie lembrava mesmo um macaco, apesar de já ser bípede e andar ereto.Com seus braços longos, se pendurava nas árvores, colhia frutos e jogava paus e pedras em animais para abatê-los. 

Seus vestígios foram econtrados apenas no Continente Africano; em 1976, foram encontradas na Tanzânia pegadas de três indivíduos (com cerca de 4 a 3 milhões de anos) - dois adultos e um criança, em Hadar, na Etiópia, foi encontrado o mais completo esqueleto de australopithecus conhecido, e que recebeu o nome de Lucy, o qual é estimado ter 3 milhões de anos. 

Estima-se que a espécie tenha aparecido entre 4 e 3 milhões de anos atrás, e que teria desaparecido há 2 milhões de anos. Mas os autores que tratam do período nao são conclusivos a quando eles surgiram, sabe? Há publicações em que se afirma que a espécie surgiu há 5 milhões de anos. 

Possuía cerca de 1m de altura e capacidade craniana entre 300 e 400 cm³.


Homo Habilis
Construía cabanas rudimentares e não apenas se servia do que encontrava na natureza, mas também fabricava instrumentos simples de pau e pedra (raspadores e percutores - seixos lascados com um de seus lados afiados). O fato de fabricarem instrumentos indica que eram capazes de pensamento conceitual e de planejamento. 

Vivia socialmente, em grupos de 15 a 20 indivíduos, preferindo habitar regiões secas da savana. Alimentava-se de frutos coletados e de pequenos animais que caçava, sendo possível que também aproveitasse em sua alimentação os cadáveres de grandes animais abandonados por predadores.

Estima-se que tenha surgido entre 2,5 e 2 milhões de anos atrás, na regiaão da Garganta de Olduvai, na Tanzânia, no sudoeste da África.  Lá foram encontrados o maior número de restos fossilizados dessa espécie, que é considerada a primeira do gênero humano, pois a sua estrutura é muito diferente da do australopithecus. 

Sua altura média era de cerca de 1,40 m, possuía polegar opoositor e sua capacidade craniana era de cerca de 700 cm³


Homo Erectus

Provavelmente foi a primeira espécie humana a utilizar-se da linguagem oral. Descobriu, há cerca de 500.000 anos como fazer fogo, e o usava para cozinhar, aquecer-se do frio, proteger-se de animais, fabricar instrumentos de madeira mais fortes... Essa espécie caçava em grupo, e há restos fossilizados que sugerem que eles usavam o fogo para caçar, incendiando pradarias para capturar os animais de grade porte ou empurrá-los para armadilhas. Nas áreas onde foram encontrados os restos fossilizados de Homo Erectus também se encontraram óssos de vários animais diferentes (hipopótamos, elefantes, rinocerontes, bisões, javalism cervos, cabras). Mas o papel do fogo não acabava aí: as famílias se reuniam ao redor do fogo para conversar, contar histórias, enfim, transmitir o patrimônio cultural do grupo às gerações mais jovens.

Esta espécie aperfeiçoou a indústria lítica. Com isso quero dizer que a espécie não só diversificou os objetos que produzia, também inventou novos métodos de lascar e talhar a pedra, alcançando níveis de perfeição cada vez melhores. Indivíduos dessa espécie produziram  os primeiros bifaces, machados de mão com duas faces trabalhadas. 
 
Foi o primeiro a migrar para fora da África. Há vestígios de sua presença nas regiões mais temperadas da Ásia e da Europa, e na Oceania. A altura média da espécie era de 1,60 m e a capacidade craniana era de cerca de 1000 cm³.

Homo Sapiens

Essa nomenclatura se refere a tipos humanos que aparecem entre 150.000 e 120.000 anos atrás, sendo provável  que tenham evoluído do Homo Erectus. Migraram para várias regiões do globo, e assumiram diferentes características em razão da variação climática e da exposição à luz solar. Nota-se também variação cultural através das técnicas empregadas na produção de ferramentas e armas de pedra que deixaram. Das subespécies de Homo Sapiens que foram encontradas e classificadas, duas geralmente são mais conhecidas no ocidente: o homo sapiens neandertalensis e o homo sapiens sapiens.

Homo Sapiens Neandertalensis

Conhecido como “homem de neandertal”, conviveu com nossa espécie e desapareceu não se sabe o porquê, embora haja algumas hipóteses:
  1.  Extermínio em guerras contra grupos de Homo sapiens sapiens;
  2. Assimilação pela espécie homo sapiens sapiens através de miscigenação (testes de DNA mostram que parte dos indivíduos da nossa espécie tem vestígios do DNA Neandertal)
  3. uma combinação das duas hipóteses anteriores.
Viveram na Europa, e na parte setentrional da África foram encontrados utensílios produzidos pela mesma técnica que os neandertais usavam. Isso sugere que ou também viveram na África setetrional, ou que grupos que tiveram contatos, comerciais ou não, com eles levaram esses utensílios  para lá. Seus vestígios da época em que o Cro Magnon aparece na Europa, há cerca de 40.000 anos, tornam-se cada vez menos abundantes que o de épocas anteriores, até o seu desaparecimento.

Suas ferramentas e armas eram mais diversificadas e sofisticadas. Assim como as espécies que  precederam, também praticavam a caça e a coleta de frutos e raízes. Seus fósseis foram os primeiros encontrados com evidências de práticas religiosas, de desenvolvimento de rituais como enterrar os mortos. 

Sua estatura média era de 1,55 m e sua capacidade craniana variava entre 1.300 e 1.500 cm³. Como seu corpo era robusto e o seu tronco maciço, o seu crânio e suas mandíbulas tinham aspecto mais siemesco, até hoje há discussão sobre a sua posição no esquema evolutivo humano.

Homo Sapiens Sapiens

Somos nós! Isso mesmo, a nossa espécie! O homem Cro-Magnon está entre os fósseis mais antigos e, por ele, sabemos que era fisicamente parecido conosco. A única espécie a habitar todos os continentes foi a nossa.






Observação nº1: essa lista não está completa, inclui apenas as espécies mais conhecidas sem as suas subespécies.
Observação nº 2: Nossa espécie foi a única a habitar todos os continentes.


Referências:

BURNS, Edward Mcnall, Robert E. Lerner, Standish Meacham. História da Civilização Ocidental: Do homem das cavernas às naves espaciais. Tradução Donaldson M. Garschagen. 29ª ed. Vol. 1 e 2. São Paulo: globo, 1989.



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